Comunicação e educação ambiental: a produção de informação que estimula a ação e possibilita mudanças

 “Se antigamente homem e natureza eram estudados de forma separadas, hoje isso não é mais possível. É notório que um não vive sem o outro, então, a forma de se divulgar a questão ambiental também deve mudar”.

(Vilmar S. D. Berna)



Uma das áreas de atuação do projeto “Corredor Caipira: Conectando Paisagens e Pessoas”, a comunicação assume um papel importante na iniciativa, cujas estratégias reúnem práticas e metodologias compartilhadas com a educação ambiental.

O “Corredor Caipira” é realizado pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq) e pelo Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental (Nace-Pteca) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo (Esalq/USP), com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

A relação direta entre as duas áreas (comunicação e educação ambiental), inclusive, é evidenciada por Vilmar Sidnei Demaman Berna no livro “Comunicação ambiental: reflexões e práticas em educação e comunicação ambiental”. No material, é apontado o risco de campos de estudos tão importantes serem utilizados por grupos ou indivíduos motivados por interesses que fogem da esfera do bem comum e da saúde do meio-ambiente.

 

A educação e a comunicação ambiental são instrumentos que tanto podem estar a serviço de grupos e pessoas empenhadas sinceramente na defesa do meio-ambiente quanto movidas por interesses individuais ou corporativos que contratam profissionais para tentar passar uma imagem de ambientalmente responsáveis, sem o serem, para se apossar de recursos naturais ameaçados antes que se tornem indisponíveis ou se torne caro demais tirá-los de onde estão. (BERNA, 2010).

 

“Impossibilidade de neutralidade” na comunicação

Frente a essa situação, na visão do autor, que aponta uma “impossibilidade de neutralidade”, a pessoa que exerce a função de comunicadora ou educadora ambiental deve basear sua atuação em um “código de ética”. 

Berna cita o exemplo de veículos da Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia), que, entre outros cuidados, alertam sobre as ameaças em nível local ou global; acompanham tais ameaças de forma a manter a sociedade informada sobre quais ações precisam ser tomadas para resolução de problemas; apresentam possíveis soluções para os problemas ambientais; além de não serem influenciados por interesses comerciais, políticos, governamentais ou não-governamentais.

Informações de credibilidade

Em suma, é necessário se pautar por informações de credibilidade, devidamente checadas ou atestadas por meio de dados comprovados, levantamentos e estudos científicos, para identificar mazelas a serem superadas para, com isso, sugerir caminhos a serem trilhados para a superação de tais problemas.

O projeto “Corredor Caipira” segue esse direcionamento em suas ações de comunicação e produção de conteúdo, que são marcadas pela diversidade de abordagens.

Como aponta Berna, a “informação ambiental de qualidade e em quantidade suficientes é ferramenta indispensável para a formação e mobilização da cidadania ambiental”. Por isso, há todo um cuidado para que essa informação seja produzida, em diferentes formatos, de forma a contemplar diferentes públicos.

Dialogando com a realidade

É importante, ainda, que essas ações estejam sempre em consonância com os objetivos do projeto de uma forma geral e que dialoguem com a realidade das pessoas que têm acesso àquelas informações, de forma efetiva.

Afinal, como aponta o autor de “Comunicação ambiental: reflexões e práticas em educação e comunicação ambiental”:



Não é pelo maior ou menor volume de informações que a população aprende a pensar criticamente e atuar em seu mundo para transformá-lo, se não tiver também uma cultura e uma formação que predisponham as pessoas a valorizar essa informação e um ensino que estimule a ação e não apenas a recitação. (BERNA, 2010).



Por isso, comunicação e educação ambiental, como o projeto “Corredor Caipira” entende, devem caminhar lado a lado, num processo em que um outro elemento é também fundamental: a cultura. Afinal, a cultura cumpre um papel fundamental na compreensão de cada pessoa quanto à importância e à necessidade de conservação ambiental. 

Assim, compreender a cultura de um território e como as pessoas se inserem nela, é um passo importante na definição de ferramentas utilizadas nas ações de educação ambiental, que devem ser observadas também pela comunicação ambiental no processo de formulação de estratégias, de forma a viabilizar uma a produção de informação e de conteúdos que, ao promoverem a compreensão, estimulam a ação e abre o caminho para mudanças necessárias.

 

Foto: Claudia Assencio

Escrito por Rafael Bitencourt, jornalista e coordenador de comunicação do Corredor Caipira

 

Referência bibliográfica

Berna, Vilmar S. Demaman. “Comunicação ambiental: reflexões e práticas em educação e comunicação ambiental”. São Paulo: Paulus, 2010.