Compreender a floresta como um espaço de biodiversidade, que permite a manutenção da vida de diferentes espécies vegetais e animais é valorizar a importância da diversidade nesse contexto.
Esse é um dos motes do “Corredor Caipira – Conectando Paisagens e Pessoas”, projeto realizado pelo Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental (Nace-Pteca) da Esalq/USP e pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
Ao incentivar um novo olhar para a floresta, o “Corredor Caipira” busca uma nova “criação cultural”, como apontado por Gilberto Gil no livro “Meio Ambiente no Século 21”, organizado por André Trigueiro.
A natureza varia no tempo e no espaço conforme o ser humano vê, pensa, imagina, povoa e “representa” o ambiente natural que o cerca, portanto cada época e cada cultura constrói sua própria relação com a natureza para além da sua existência física, transformando-a também numa criação cultural.
(GIL, 2003, p. 46).
O que Gilberto Gil traz à tona nesse texto é que o modo como cada povo interpreta a natureza que o cerca, é uma criação cultural. E que cada cultura constrói uma determinada leitura da natureza.
Aí vem a pergunta: que leitura da natureza nós temos aqui na contemporaneidade? Qual a relação que nós temos com o ambiente em que estamos inseridos?
Frente à contemporaneidade, fica claro que há uma relação de grande desconexão com a natureza, em que se foca muito nos avanços e no crescimento, em detrimento do ambiente em que vivemos.
Entre os resultados dessa desconexão estão o alto número de queimadas de vegetação, como visto em 2021, mudanças climáticas e tempestades de poeiras, questões que nos apontam uma urgência: não dá mais para mantermos esse pensamento de intensa exploração da natureza.
Cultura Caipira
“Caipira” é um termo de origem tupi, oriundo de ka’a pora, que une caa (mato) e pora (gente). Ou seja, significa gente do mato. É uma designação que compreende a população do interior dos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso. População essa que passou a se formar quando os bandeirantes passaram por essas terras.
O caipira, ao longo da história, foi estereotipado como um sujeito ingênuo, atrasado, desprovido de inteligência e muito ligado à natureza – o que, frente à industrialização, era sinônimo de atraso. Uma visão que foi maximizada com alguns personagens que circularam por aí.
Mas o caipira de séculos passados, em sua essência, tinha forte relação com a terra, sentia-se pertencente a ela. O que é fundamental, já que, para preservar a natureza e valorizar o ambiente em que se vive, é preciso ter esse senso de pertencimento.
O rio influencia o humor
Falar em senso de pertencimento na cidade-sede do “Corredor Caipira” é abordar o Rio Piracicaba, um manancial com o qual os moradores têm uma relação extremamente próxima, que influencia seu humor, como apontado por diferentes pesquisadores locais.
Quando o rio está cheio, o piracicabano fica alegre, animado. Já quando a vazão é baixa, o piracicabano fica triste, cabisbaixo. Uma relação, como não poderia ser diferente, totalmente presente na cultura local.
As principais festividades da cidade acontecem às margens do rio. O folclore local está totalmente ligado ao rio. Pintores, artistas cênicos e músicos são influenciados pelo manancial.
Uma relação em que a cultura e o rio caminham completamente juntos. E com isso, a cultura e o meio ambiente caminham juntos, já que o manancial é responsável por manter a vida, tanto das espécies de peixes que o habitam, a vegetação de sua margem e também a vida humana, pois sem recursos hídricos, nós não vivemos.
Valorizar a cultura e principalmente a cultura caipira é valorizar os saberes ancestrais, modos de produção artesanais, formas solidárias de economia. É valorizar o ambiente. Falar em cultura é falar em identidade e em patrimônios e o grande patrimônio do caipira é o patrimônio natural!
Referência bibliográfica
GIL, Gilberto. Algumas notas sobre cultura e meio ambiente. In: TRIGUEIRO, A. (Coord). Meio Ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas de conhecimento. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
Escrito por Rafael Bitencourt, jornalista e coordenador de comunicação do Corredor Caipira
Foto de Capa: Bruno Fernandes