Uma história sobre o Jaracatiá: Cultura e Preservação podem caminhar juntas?

Neste texto você lerá sobre uma espécie muito carismática: o Jaracatiá (Jacaratia spinosa), também conhecido por mamãozinho-do-mato, devido à semelhança de seu fruto ao mamão que tão bem conhecemos. Assim como seu primo famoso (Carica papaya), o Jaracatiá é também da família Caricaceae, e seus frutos são muito apreciados por aves e primatas – dentre os últimos, nós humanos nos destacamos.

Árvore de grande porte, pode atingir até 20m de altura. Mudas são facilmente produzidas, com alto índice de sobrevivência e crescimento rápido. Como espécie pioneira, é muito indicada para o reflorestamento de áreas degradadas. Vale dizer que é uma espécie dióica, ou seja, há plantas que são fêmea e outras são macho, necessita-se de ambas para a diversificação genética, embora seja necessário apenas uma fêmea para produzir frutos.

Sua distribuição original compreendia várias formações florestais de Mata Atlântica e de Cerrado, desde o sul da Bahia até o Rio Grande do Sul, e também Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Em ambos os biomas essa planta corre risco de desaparecer, sendo esporadicamente encontrada nas propriedades mais tradicionais ou em áreas preservadas. 

E que história é essa sobre o Jaracatiá? Siga lendo este texto para descobrir!

Jaracatiá: o fruto que faz a alegria de quem o conhece

Esta palmeira recebe diversos nomes locais. Destaca-se “mamoeiro-brabo”, em referência ao látex que se faz presente no fruto quando é cortado, o qual tem potencial de causar feridas e queimaduras na pele, e também ao mal-estar que causa quando ingerido verde in natura. Entretanto, há saberes guardados nas comunidades que crescem na companhia de árvores como esta: estamos falando dos deliciosos doces que podem ser produzidos a partir de seus frutos e tronco, desde que tratados com o devido cuidado. 

Nos meses de fevereiro a março, em pés de mais de 6 anos de idade são encontrados frutos de forma oval ou arredondada, de coloração amarelo-alaranjada quando maduros. A polpa avermelhada é adocicada, contém numerosas sementes, além do látex fustigante – no qual também podem ser encontradas propriedades medicinais. Tal parte da planta é amplamente utilizada para fazer geléias e a estimada compota de jaracatiá (doce de fruta em calda). Nota-se que tais doces não são explorados comercialmente em larga escala, sendo produzidos de forma artesanal.

Um caso triste com um final promissor

É conhecida também a “cocada de Jaracatiá”, feita com o miolo do caule ralado. Como é relatado, para a obtenção do tronco, árvores inteiras eram abatidas, e o plantio não acompanhava o ritmo em que esses indivíduos adultos eram derrubados. Credita-se a essa prática o sumiço da espécie em locais como São Pedro-SP, cidade em que os doces caseiros são muito tradicionais.

Por 15 anos, a comunidade são-pedrense conheceu o drama não apenas do rareamento da planta, mas também da própria produção dos doces! Isto se deveu ao envelhecimento das doceiras que dominavam a técnica, junto ao fato de esta prática cultural ter deixado de se fazer persistente nas gerações seguintes. Vê-se assim fatores socioculturais que foram acompanhados da crescente indisponibilidade do Jaracatiá por conta da expansão urbana. Assim, o Jaracatiá e seus deliciosos doces correram  o risco de desaparecimento.

Nos últimos anos, entretanto, tem havido uma “redescoberta” do Jaracatiá, muito por conta de sua utilidade na recuperação florestal. Por suas singularidades e valor cultural, esta espécie é uma das 20 reunidas no Banco Ativo de Germoplasma (BAG), um banco de informações genéticas utilizado na restauração florestal de 45 hectares nos municípios de Piracicaba, São Pedro, Águas de São Pedro, Anhembi e Santa Maria da Serra.

Este trabalho está sendo desenvolvido na região de Piracicaba, interior de São Paulo, pelo projeto Corredor Caipira, realizado pelo Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental (Nace-Pteca) da Esalq/USP e pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq) patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

Nós do projeto Corredor Caipira, além de acreditarmos que Cultura e Preservação podem e devem caminhar juntas, apostamos na criação de uma nova Cultura de Preservação, a qual valoriza diversidade e a coexistência de todos os seres, situando o ser humano como mais um na complexa rede que forma a Vida. E você, o que pensa? Venha nos contar em nossas redes sociais, onde poderá acompanhar ações do projeto e ler mais conteúdos como este!

Escrito por Isabella de Oliveira Facin, aluna de Psicologia na UNESP/Bauru e voluntária no projeto Corredor Caipira

Fotos: Ademir Carosia e Árvores Brasil