Na região de atuação do projeto “Corredor Caipira”, realizado pelo Nace Pteca da Esalq/USP e Fealq e patrocinado pela Petrobras há um enorme déficit de vegetação nativa nas áreas protegidas por lei, onde é obrigatória a conservação e/ou restauração ecológica do local (APPs e RLs).
No território de ação direta do projeto, identificamos um déficit de 28.500 hectares de área sem cobertura vegetal natural, considerando somente as APPs hídricas, aquelas áreas que visam a proteção das nascentes e cursos d’água, ou seja, se considerarmos todos os tipos de APPs e as RLs esse déficit é ainda maior.
Frente a esse cenário alarmante, é urgente criarmos processos para aumentar a cobertura vegetal nativa, promover a restauração ecológica na paisagem e, assim, assegurarmos os serviços ecossistêmicos promovidos pelos ecossistemas naturais.
Os serviços ecossistêmicos promovidos pelas florestas e ambientes naturais são vitais para a existência de nós, humanos, na Terra. Conservação dos ciclos hidrológicos e produção de água em abundância, estocagem de carbono e diminuição do aquecimento global, ambientes mais resilientes e mais adaptados às mudanças climáticas e a conservação da biodiversidade são alguns exemplos de serviços ecossistêmicos gerados pelos ambientes florestais.
Em nossa região é nítida a diminuição do volume de água nos rios. Em Piracicaba – SP a diminuição da superfície d’água é de 50% nos últimos 20 anos. Já em São Pedro – SP, o dado é ainda mais crítico, desde 1991 o município perdeu 68% de superfície hídrica, segundo dados da MAPBIOMAS. Essa situação trágica se dá pelo mau uso e conservação do solo, historicamente promovido pelos sistemas agropecuários industriais fortemente presentes na região e pela escassez de cobertura vegetal natural. Dessa forma, quais estratégias podemos adotar para reverter essa situação crítica que enfrentamos? O desafio certamente é enorme e cada vez mais necessário a transformação na prática.
O “Corredor Caipira” possui como meta a implantação de 45 hectares com restauração ecológica e com sistemas agroflorestais. Um número expressivo em termos financeiros, logísticos e de quantidade de trabalho para se realizar em dois anos, porém, muito pouco frente à urgente necessidade de transformação destacada anteriormente.
Esse dilema nos trouxe a seguinte reflexão: quais estratégias metodológicas devemos aplicar para que esses 45 hectares implantados sejam impactantes na melhoria das condições ambientais de nossa paisagem?
Estratégias utilizadas para implantação de florestas demonstrativas
1. Priorizar áreas de relevância socioambiental
Priorizar áreas de extrema relevância socioambiental para o território que foram levantadas no diagnóstico da paisagem realizado pelo projeto. Este trabalho está detalhado na cartilha produzida pelo “Corredor Caipira”, intitulada “Restaurando o amanhã: desafios e propostas para a paisagem”.
2. Transformar esses locais em florestas demonstrativas
Transformar esses locais a serem restaurados em áreas demonstrativas para a sociedade, como forma de apontar que é possível fazer transformação na prática, o que é fundamental para a mobilização, formação e criação de sentimento de possibilidade para aqueles que se conectam com a proposta.
3. Envolver o público do território
Envolver o poder público municipal na articulação e na participação efetiva dos processos de planejamento e implantação dessas áreas. Uma parceria que, além de proporcionar mais recursos operacionais que permitem ampliar as áreas restauradas, também insere o tema na pauta do município, que passa a criar estratégias de manutenção e ampliação dessas áreas por meio de políticas públicas e outros projetos.
Um exemplo prático de utilização dessas três estratégias no “Corredor Caipira” foi a restauração florestal e agroflorestal realizada em uma área pública no município de São Pedro (SP).
Em nossa publicação “Como conectar paisagens e pessoas com florestas, cultura e participação”, fizemos a descrição metodológica desse processo para elucidar como essas estratégias podem ser aplicadas. Os exemplos práticos relatados servem para inspirar outras ações da mesma natureza, entretanto, as ideias precisam ser reformuladas, replanejadas e adaptadas ao contexto e à realidade de cada território. Baixe nossa publicação e saiba como aplicamos florestas demonstrativas.
Foto: Jessica Lane
Trecho retirado e adaptado do guia metodológico “Como conectar paisagens e pessoas com florestas, cultura e participação”