A agricultura industrial, dita moderna, com bases na produção de monocultivos geneticamente homogêneos, ou transgênicos, e no uso intensivo de fertilizantes e agrotóxicos em larga escala é responsável pela criação das paisagens rurais mais monótonas e com a menor biodiversidade do mundo, além da contaminação crônica dos ecossistemas, dos recursos naturais e da saúde humana. Estudos dirigidos à agrobiodiversidade têm ganhado notoriedade nos últimos anos em decorrência da perda acentuada de diversidade agrícola, tanto em termos genéticos quanto culturais, provocada principalmente pela expansão desenfreada deste tipo de agricultura.
Este assunto é um dos interesses especiais do projeto Corredor Caipira, realizado pelo Nace-Pteca, Esalq/USP e Fealq e patrocinado pela Petrobras, e tem como um dos seus objetivos, sensibilizar produtores rurais e toda a sociedade quanto à importância de se aumentar a agrobiodiversidade em suas culturas e, consequentemente, na alimentação e no cotidiano da população no campo ou nas cidades.
O que significa agrobiodiversidade?
A Convenção da Diversidade Biológica (CDB) reconhece que a agrobiodiversidade é essencial para satisfazer as necessidades alimentares da humanidade e a conceitua como: “toda a diversidade biológica com relevância para alimentação e agricultura”. De forma complementar, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) compreende a agrobiodiversidade não apenas como uma diversidade biológica, mas inclui também conhecimentos tradicionais e as estruturas culturais dos sistemas agroalimentares.
A redução da agrobiodiversidade para a agricultura
Em termos práticos, é possível observar como a redução da agrobiodiversidade afeta diretamente a segurança alimentar. São conhecidas aproximadamente 250.000 espécies de plantas superiores (angiospermas e gimnospermas), das quais cerca de 30.000 são comestíveis e 7.000 têm sido utilizadas para alimentação no decorrer de toda história humana. Cerca de 250 espécies passaram a ser cultivadas nos últimos 12.000 anos e estimativas da FAO indicam que, atualmente, apenas 10 espécies são responsáveis por 82% da energia alimentar consumida, em nível mundial, e quase a metade dessas calorias é obtida a partir de duas espécies: o trigo e o arroz.
Quando a agrobiodiversidade é suprimida, os agricultores perdem soberania, ou seja, tornam-se reféns do mercado de insumos agrícolas industriais. A transformação da agricultura em uma atividade industrial marginaliza agricultores que dispõem de poucos recursos e vivem em regiões heterogêneas, tanto do ponto de vista ambiental como cultural, e que, em geral, necessitam de sementes com diversidade, adaptáveis aos diferentes usos, às necessidades e condições locais específicas.
O que podemos aprender com bons exemplos brasileiros?
No Brasil, um país com grande diversidade social, cultural e biológica, comunidades tradicionais indígenas, não indígenas e campesinas mantém ricos componentes da agrobiodiversidade no campo, cuja dimensão ainda é pouco conhecida. Essa diversidade e os conhecimentos tradicionais a ela associados fornecem as bases para o desenvolvimento de tecnologias agroecológicas, ao melhoramento genético das plantas cultivadas e ao estabelecimento de sistemas agroalimentares sustentáveis.
A alta diversidade das plantas manejadas pelos agricultores tradicionais e campesinos confere maior adaptabilidade e segurança aos agroecossistemas, favorecendo um equilíbrio agroecológico dinâmico tanto para o controle de pragas e doenças quanto para a mitigação dos efeitos do aquecimento global. A agrobiodiversidade, portanto, é fundamental para a sustentabilidade da paisagem rural, fortalecendo a resiliência ambiental, social e econômica dos agroecossistemas.
É preciso avançar nas estratégias de conservação da agrobiodiversidade, em bases agroecológicas, com inclusão social e respeito às características ambientais e culturais dos agroecossistemas. Nesse contexto, é importante que todos os setores da sociedade se comprometam com um sistema agroalimentar diversificado, ecologicamente adequado, culturalmente respeitoso e socialmente justo, que traga benefícios às famílias tanto no campo quanto na cidade.
Para saber mais, consulte o artigo: Agrobiodiversidade, Sociedade e Academia: uma revisão com enfoque na conservação e na pesquisa interdisciplinar. E se quiser continuar aprendendo estes e outros assuntos, continue acompanhando nosso blog e siga o Corredor Caipira nas redes sociais.
Foto: Jessica Lane
Escrito por Fábio Frattini Marchetti, pesquisador de pós-doutorado da ESALQ/USP e membro do Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão em Educação e Conservação Ambiental (NACE-PTECA/USP)