Você já viu um cedro? Tudo que você precisa saber sobre esta espécie!

CEDRO

“Foi num belo Mato Grosso

Há vinte anos atrás

Naquele tempo querido

Que não volta nunca mais

Nas matas onde eu caçava

Um pequeno arbusto achei

Levando pra minha casa

No meu quintal plantei

Era um belo pé de cedro

Pequenina, em formação

E plantei suas raízes

Na terra fofa do chão

(…)”

Pé de Cedro, de Zacarias Mourão.

Esta música do Zacarias dos Santos Mourão, Pé de Cedro, composta em 1959 é uma das músicas mais famosas do Mato Grosso do Sul, então apenas Mato Grosso. O tema “ecológico” na música, com uma planta como referência central na letra era algo inédito na época. Há um documentário interessante sobre o autor exibido pela TVE Cultura de Mato Grosso do Sul

Conheça o cedro (Cedrela fissilis)

O nome Cedrela deriva de Cedrus, porque a árvore rescende perfume à semelhança do legítimo cedro; fissilis vem do latim fissilis, que pode ser fendido ou rachado. O cedro, Cedrela fissilis, é espécie nativa da Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador, Panamá, Paraguai, Peru e Venezuela, e pode ser encontrada em toda a América Central e do Sul. No Brasil ocorre em quase todos os estados, em todos os biomas brasileiros (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal).

Historicamente, foi uma espécie dominante e abundante, mas hoje é escassa em todos os países de sua distribuição atual, exceto no Paraguai. A população da espécie tem sido extensivamente explorada por madeira e ameaçada pela perda de habitat. Seu status na Lista Vermelha da IUCN está “em perigo”. C. fissilis é uma das espécies arbóreas mais ameaçadas no centro-sul do Brasil, sua principal área de ocorrência, tornando a conservação dos seus recursos genéticos extremamente ameaçada pela redução populacional que vem sofrendo.

Cedrela fissilis pertencente à Família Meliaceae, a mesma de outras espécies florestais importantes na floresta estacional da mata atlântica na região do Corredor Caipira (projeto realizado pelo Nace-Pteca, Fealq e Esalq/USP e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental), como a canjerana, triquilias e marinheiro que se notabilizam por produzir madeiras estáveis e com boa trabalhabilidade, boa resistência e peso moderado. Mas diferente dessas espécies, o cedro é uma espécie decídua, que perde as folhas durante a estação menos favorável para o crescimento, no inverno ou no período mais seco do ano.

As árvores de cedro podem atingir de 10 a 25 m de altura e 40 a 80 cm de DAP, podendo atingir até 40 m de altura e 300 cm de DAP, na idade adulta. As folhas, principalmente quando desprendidas do galho, exalam um cheiro semelhante ao de cebola (Carvalho).

Esta espécie ocorre principalmente em solos profundos e úmidos, mas bem drenados e com textura argilosa a areno-argilosa. Em solos rasos ou com camadas de pedras e áreas de lençol freático superficial não se desenvolve bem. O cedro é uma árvore que se desenvolve melhor com sombreamento no estágio juvenil e pleno sol no estágio adulto.

Suas principais utilidades

A madeira apresenta superfície lustrosa e com reflexos dourados; grã direita ou pouco ondulada. Cheiro característico, agradável; fácil de ser trabalhada, com instrumentos manuais ou mecânicos. O aplainamento produz uma superfície lisa e uniforme. A madeira é particularmente indicada para construção civil (venezianas, rodapés, guarnições, forros, janelas, etc.); em construção naval; partes internas de móveis finos, artigos de escritório, molduras para quadros, obras de entalhe, instrumentos musicais, etc .

Em instrumentos musicais, é utilizada para corpo e braços de guitarras e baixos, tampos e braços de instrumentos acústicos em geral, fundo e lateral de violão, corpo de rabeca, congas, atabaques e pandeiros. A madeira do cedro é excelente para ser esculpida. Esculturas sacras das Reduções Jesuíticas Guarani do Rio Grande do Sul foram feitas com sua madeira, assim como a maioria das imagens nas igrejas barrocas de Minas Gerais, em cidades como Ouro Preto, Tiradentes, Mariana, Sabará e São João del Rei.

O uso da espécie no paisagismo de parques e grandes jardins é difundido e recomendado para arborização de praças públicas. É também usada em arborização de ruas em várias cidades brasileiras, no entanto requer espaço suficiente para o seu crescimento.

Essa espécie é indicada para recuperação de ecossistemas degradados e para restauração de matas ciliares em locais com ausência de inundação. As folhas novas dessa espécie servem de alimento ao macaco-bugio ou Alouatta fusca.

Desafios da espécie

O maior problema desta cultura do, tanto em viveiros e plantios, na regeneração natural e na arborização urbana é o ataque às gemas apicais pela broca-do-cedro (Hypsipyla grandella). Com o ataque do inseto, o crescimento, estabelecimento e formação de um fuste reto é comprometido, resultando em árvores com grande bifurcação do fuste, com perdas de até 35% em altura nos três primeiros anos e, após ataques sucessivos, morte da planta. A broca-do-cedro também ataca frutos e sementes, o que facilita a formação de inóculos para ataques a outras plantas ou plantios da espécie. 

Em vista da suscetibilidade da espécie à broca-do-cedro, o plantio da espécie deve ser feito com um bom espaçamento entre árvores da mesma espécie, o que equivale a dizer que a espécie deve ser plantada em plantio mistos, com outras espécies nativas em uma baixa densidade de plantas (menos de 10 plantas por hectare) para reduzir os riscos de ataque da broca.

Mesmo com os riscos de ataque por insetos, o cedro é uma espécie arbórea nativa da região do Corredor Caipira com um valor extraordinário, seu cultivo deve ser estimulado pelos órgãos competentes e realizado pela população.

Quer conhecer mais sobre o Projeto Corredor Caipira ou sobre árvores nativas como cedro e outras espécies? Acompanhe as novidades no nosso site e nas redes sociais.

Foto: O Município

Escrito por Girlei Costa da Cunha, Engenheiro Florestal com mestrado