O Brasil é um dos países mais biodiversos do mundo, abrigando uma enorme variedade de espécies vegetais, incluindo leguminosas nativas que desempenham papéis fundamentais nos ecossistemas. Essas plantas pertencem à família Fabaceae e possuem uma enorme relevância na recuperação de áreas degradadas, na alimentação humana e animal, além de seu uso madeireiro e ornamental.
Ao mesmo tempo, o Corredor Caipira, projeto realizado pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq) e pelo Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental (Nace-Pteca) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo (Esalq/Usp), com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, está contribuindo para a transformação de áreas degradadas e resiliência do meio ambiente.
Nesse contexto, o que muitos não sabem é que as leguminosas vão muito além do prato, ou seja, nem todas as leguminosas nativas são utilizadas para a alimentação humana. Dessa maneira, trouxemos cinco leguminosas nativas, mas nem todas utilizadas somente para nutrição.
Vamos abordar esse tema? Conheça as principais:
Ingá-cipó (Inga edulis)
Também chamada de “feijão-de-sorvete” devido ao seu sabor doce e textura macia, é originária da América do Sul. Amplamente cultivada pelos povos indígenas da Amazônia. É utilizada para alimentação, madeira, remédios e até mesmo para o desenvolvimento da bebida alcoólica cachiri.
Seus frutos são vagens compridas, contendo uma polpa branca, macia e adocicada, bastante apreciada pelo sabor suave, semelhante ao de baunilha. Pode chegar até 30 metros de altura e possui uma copa ampla e moderadamente densa.
Dessa forma, além do consumo direto, o ingá-cipó é valorizado em sistemas agroflorestais por seu rápido desenvolvimento e capacidade de fixar nitrogênio no solo por meio de relações simbióticas. Isso contribui para a manutenção do ecossistema e serve como sombra para culturas como café e cacau.
Ingá-feijão (Inga marginata)
Comum em quase todo o Brasil, especialmente em matas ciliares, pode alcançar até 15 metros de altura, com tronco fino e copa densa. Possui vagens lisas com sementes envoltas por polpa branca e doce, além de exibir flores brancas e perfumadas.
É utilizada na arborização urbana, formação de cortinas arbóreas e uso ornamental. Seus frutos comestíveis atraem diversas espécies de animais, incluindo pássaros, macacos e até peixes, sendo uma espécie promissora e valiosa para projetos de restauração florestal.
Cabreúva (Myrocarpus frondosus)
A cabreúva é uma árvore nativa das regiões Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil. Conhecida também por nomes como cabriúva, cabriúva-parda, cabrué, cabureíba, óleo-cabureíba, óleo-pardo e pau-bálsamo, pode atingir até 30 metros de altura.
Sua casca apresenta coloração cinza-pardacenta, enquanto que a madeira é avermelhada com manchas amarelo-escuras. Assim, é valorizada devido à madeira de alta qualidade e pelo bálsamo aromático extraído de incisões no tronco, utilizado na medicina popular.
A espécie floresce entre julho e setembro, com frutificação de outubro a novembro. Contudo, com as altas explorações e perdas de habitat, a cabreúva está na lista das espécies vegetais ameaçadas do estado de São Paulo.
Corticeira-da-Serra (Erythrina falcata)
Conhecida por diversos nomes populares, como bico-de-papagaio, mulungu e suinã, essa espécie se destaca por suas flores vermelhas alaranjadas, que florescem entre julho e novembro, a depender da região.
É encontrada, naturalmente, desde o estado de Mato Grosso até o Rio Grande do Sul, preferindo áreas próximas aos rios, regiões serranas e encostas úmidas.
Além de seu uso ornamental, é valorizada na recuperação de áreas degradadas, a partir da sua capacidade de fixar nitrogênio no solo e atrair polinizadores. A madeira é utilizada em carpintaria e na fabricação de caixas, ao mesmo tempo em que na medicina popular diferentes partes da planta são empregadas por suas propriedades terapêuticas.
Bracatinga (Mimosa scabrella)
A bracatinga é uma árvore nativa das regiões mais frias do sul do Brasil, podendo atingir até 15 metros de altura em apenas três anos de cultivo.
Sua madeira é estratégica para a lenha, construção civil e mobiliário, destacando-se pelo alto poder calorífico, o que a torna um excelente combustível. Além do mais, é importante no ramo da apicultura, uma vez que suas flores atraem abelhas mesmo em períodos de escassez de pólen.
Dessa maneira, pode ser utilizada para a recomposição das florestas sul-brasileiras e diversificando a renda dos agricultores locais.
Portanto, as leguminosas nativas discutidas acima possuem um papel fundamental na recuperação ambiental e na sustentabilidade agrícola, pois possuem a capacidade de fixar nitrogênio no solo, melhorando sua fertilidade e promovendo o desenvolvimento de outras espécies. Dentre elas, as espécies discutidas se destacam por seus múltiplos usos, desde a alimentação até a recuperação de áreas degradadas.
Foto: Gustavo Giacon
Escrito por Amanda Varussa, estudante de engenharia agronômica pela Esalq/Usp e bolsista pelo projeto.