As mudanças climáticas têm como principal causa, o aumento expressivo das emissões de gases de efeito estufa oriundas das atividades antrópicas, e como consequência, o aquecimento da temperatura média da superfície do planeta, alterando de forma repentina as condições ambientais de diferentes regiões ao redor do mundo, colocando em risco à manutenção do bem-estar dos seres vivos do Terra. Como as florestas podem ajudar a minimizar estes impactos?
O que são as mudanças climáticas?
Os efeitos das mudanças climáticas estão sendo percebidos de forma cada vez mais intensa. Episódios de extremos climáticos têm ocorrido ao redor do mundo. No momento, o continente europeu passa pela maior onda de calor já registrada em toda a história, com a morte de milhares de pessoas. No Brasil, as mudanças no regime das chuvas, com períodos mais longos de escassez hídrica e, no lado oposto, inúmeras ocorrências de grandes volumes de chuvas, desabrigando e matando centenas de pessoas devido às enchentes e desmoronamentos de encostas marcaram este último verão. Isto tudo tem uma causa comum – são resultados das mudanças climáticas ocasionadas pelo expressivo aumento das emissões de gases do efeito estufa que passaram a ocorrer de forma expressiva com a Revolução Industrial a partir de meados do século dezoito.
Desde então, a intensificação da queima de combustíveis fósseis pelas indústrias, automóveis, usinas termoelétricas, os desmatamentos e queimadas das florestas e sua substituição pela agricultura convencional em escala ampla, com o uso intenso de fertilizantes e expansão da pecuária, são exemplos de atividades que tem contribuído para a desestabilização da concentração dos gases do efeito estufa na atmosfera, especialmente pelas emissões de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, algumas das principais substâncias que compõem o rol destes gases.
Foi na Rio-92, primeira realizada pela ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que a questão do aquecimento global veio à tona. A partir deste encontro, inúmeras discussões e acordos já ocorreram nas Conferências das Partes (COP), dos países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, para se buscar alternativas sustentáveis para frear os impactos climáticos. Dentre estes, destacam-se o tratado internacional reconhecido como Protocolo de Kyoto de 1997, no qual se estabeleceram metas de redução dos níveis de emissões e mecanismos para seu alcance, dentre os quais, o comércio dos chamados créditos de carbono, e o Acordo de Paris de 2015, onde os 195 países revisaram e apresentaram suas intenções de redução que viria a ocorrer a partir de 2020, na tentativa de limitar o aumento da temperatura global em 1,5°C, ou ao menos evitar que esta alcance 2°C com relação ao nível pré-industrial.
Apesar destes acordos e da redução das taxas de emissões de alguns países, nos últimos 30 anos que se sucederam a Rio-92, as emissões globais do período totalizaram o dobro de toda quantidade já emitida desde a Revolução Industrial, conforme dados apresentados pelo IPCC (sigla em inglês para designar o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas). Isto demonstra a necessidade de medidas drásticas e urgentes, tanto por parte dos governos que devem formular políticas efetivas para o comprimento de suas metas, como também demanda do engajamento das pessoas na mudança de hábitos para se ter um estilo de vida mais sustentável através da melhoria de sua “pegada ecológica”.
A situação brasileira
No Brasil, as emissões estão principalmente relacionadas ao setor do Uso da Terra, Mudança no Uso e Floresta, já que cerca de ¾ provém do setor da agropecuária. Em 2020, a maior fonte de emissões foi devido ao desmatamento, responsável por 46% do total. Isto porque as florestas são sistemas que armazenam altas quantidades de carbono em sua biomassa, acumulada através do processo de fotossíntese, no qual o gás carbônico é absorvido da atmosfera e sintetizado para virar compostos orgânicos que compõem as estruturas das plantas. Uma vez desmatada estas florestas, todo este carbono armazenado na biomassa florestal é liberado para a atmosfera. Por isso, a conservação dos biomas brasileiros, evitando a emissão de carbono, ou a restauração da vegetação nativa, realizando a remoção ou sequestro deste carbono, é uma ação crucial para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
Para se ter uma ideia, uma área de um hectare da fisionomia Floresta Estacional Semidecidual na região da Mata Atlântica do interior do Estado de São Paulo, é capaz de estocar cerca de 150 toneladas de carbono, o que equivale a 550 toneladas de CO2 (dióxido de carbono). Realizando a restauração destas florestas, os estudos estimam que, em média, é possível remover 350 toneladas de CO2 em cada hectare, em um período de 30 anos. Considerando que o Corredor Caipira, projeto realizado por Nace-Pteca, Esalq/USP e Fealq e patrocinado pela Petrobras, está restaurando 60 hectares destas florestas, então a estimativa é de que o projeto contribuirá com o sequestro de 21 mil toneladas de CO2 da atmosfera neste mesmo período. Esta quantidade removida corresponde aproximadamente a quantidade de emissões realizadas por 10 mil carros populares flex circulando nas cidades no período de um ano.
Como reduzir os efeitos das mudanças climáticas?
A realização de boas práticas nas atividades agropecuárias como, por exemplo, o manejo adequado do solo, o plantio através do cultivo mínimo, a produção e incorporação de matéria orgânica e, principalmente, a produção em sistemas agroflorestais através de princípios agroecológicos, são importantes alternativas as prática convencionais que podem contribuem para minimizar as emissões e promover a remoção dos gases do efeito estufa agrícola. Por isso, estas práticas vêm sendo divulgadas pelo Corredor Caipira em suas oficinas, cursos, mutirões e redes sociais como forma de promover experiências e trocas de saberes para a maior adaptação e resiliência da sociedade da região às mudanças climáticas.
Por fim, cabe salientar que nunca é tarde para promovermos transformações em nossas vidas e na lida com a terra. Também nunca antes nossas ações diárias foram tão importantes para assegurar a vida de todos os seres da Terra. É hora de percebermos as necessidades e aceitarmos o desafio com vontade de lutar por um mundo melhor que deixaremos para nossas próximas gerações.
Escrito por Eduardo Gusson, engenheiro florestal com doutorado e consultor florestal do Corredor Caipira