As tradições e o modo de vida da nossa região, também conhecidas como cultura caipira, são destaques dentro do nosso projeto e, por consequência, do curso “Conectando Paisagens e Pessoas”. Para mostrar como esse tema vem sendo trabalhado em nossas ações, trouxemos para o nosso blog este texto de um aluno da nossa segunda turma, contando suas impressões e considerações sobre a cultura local, a partir das aulas ministradas e dos estudos dos materiais disponibilizados pelo nosso curso. Confira!
Cultura caipira e transformação local
Acredito que valorizar a cultura popular do Brasil é um dos maiores desafios a serem superados, para valorizar os saberes do nosso território. Ressalto que este curso me mostrou muitos outros e possíveis pontos de vista sobre o que é cultura, cultura local, agricultura familiar, os povos originários, e a nossa gente, o povo caipira, além da importância de valorizar nossas lendas, nossos mitos e nossas contações de história. Também me mostrou o quanto o individualismo da sociedade moderna pressiona o coletivismo, a participação, a equidade, deixando de lado a simplicidade de ser caipira, ser caboclo, ser quilombola.
Numa resumida linha de tempo, muitas pessoas perderam o contato com a terra, os vínculos com a família, com a cultura caipira, com o interior, para buscar nas cidades grandes o famoso Eldorado, o progresso e a promessa de uma vida melhor. Podemos pensar mais além, desde o descobrimento de nossa terra, com a colonização, a imposição de um novo modo de vida e de monoculturas agrícolas, transformando para sempre as nossas paisagens.
Muita coisa mudou na sociedade e nas pessoas por causa deste movimento todo. Porém, hoje esta visão do interior, do sertão, da localidade isolada, está sendo valorizada, tanto pela qualidade de vida, como pela oportunidade das pessoas poderem voltar às suas origens. Ao que parece, o olhar para nossas lendas, nossos povos e nossos costumes está mudando, tanto pela valorização das pessoas de suas origens e de seus ancestrais, como pela possibilidade das pessoas se conectarem e poderem compartilhar essas informações, saberes e culturas.
Por que ressalto isto? O próprio curso do projeto Corredor Caipira, realizado pelo Nace-Pteca, Esalq/USP e Fealq e patrocinado pela Petrobras, é um exemplo. Quanta coisa boa se construiu, se conheceu e se reconheceu, pelo fato de as pessoas apenas estarem juntas, interagindo e se conectando.
Diante do exposto, como a professora Mari Pedrozo enfatizou, é importante a interlocução entre as gerações, mestres e aprendizes, para preservar todo o conhecimento e passar esse legado entre as gerações.Assim, é possível encontrar todas as pessoas, todas as formas de manifestações, dentro de um mesmo espaço-tempo, assemelhando-se a uma manifestação ancestral, criando um local e clima propício para a troca, gerando a confraternização entre pessoas, culturas e famílias.
Porém, acredito que a maior dificuldade é o choque entre culturas, pois o resgate da cultura caipira enfrenta uma inundação de informações contemporâneas que, na maioria das vezes, a afoga. Ressalto também, que toda cultura primitiva do nosso país, segundo Sodré, foi transplantada, ou seja, devido a demanda de colonização, a cultura que atravessou oceanos, foi de certa forma, imposta aos que aqui viviam.
É de suma importância que muitas comunidades se organizem e, juntas, fomentem a cultura local regional, resgatando seus costumes e suas tradições. Este regionalismo já era divulgado por Cornélio Pires, que se auto declarava um Regionalista pois, neste campo, ele foi o porta-voz da cultura local e regional, que eram desconhecidas por grande parte de outras camadas sociais:
“Escrevendo para a “minha gente”, para os “meus caipiras”, quer sejam da cidade quer dos sítios, desde 1910 me dedico ao regionalismo, e não procuro “fazer literatura” para a alta crítica…A pretexto de narrar casos e mentiras, registro o linguajar do roceiro, expondo considerações ligeiras sobre as necessidades dos nossos caipiras e procuro dar uma pálida ideia da nossa gente, de vida rústica e da nossa paisagem. Talvez a obra não saia de certos leitores…Paciência….Quem dá o que tem…”
Quando se fala em cultura caipira, não podemos esquecer também da culinária, que é diversa e une pessoas. Se falamos em culinária, falamos também sobre agricultura, comida na mesa, de qualidade, que por sua vez remete ao produtor rural, de gente que trabalha na terra, do produtor local. Esse encadeamento de pessoas vai formando uma teia que não pode ser rompida. Após a teia começar a ser tecida, a rede se forma e vai se transformando.
Diante deste pequeno resumo de ideias, de tudo que eu estudei, pesquisei e inclusive vivenciei no curso do projeto do Corredor Caipira, foi como se outra porta se abrisse, para uma visão além de reflorestamento, do plantio de árvores. Tive a oportunidade de entender que a cultura faz parte de um processo muito importante de mudança, de novas possibilidades, de novos saberes e novas conquistas. Muito obrigado pela oportunidade.
Foto: Claudia Assencio
Escrito por Antônio Marcos Zenaro, estudante do curso “Conectando Paisagens e Pessoas”