Há um esforço global para ampliar a escala da restauração florestal no planeta. Esses esforços ocorrem para reduzir os efeitos das mudanças climáticas, mas também para contribuir com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU.
O projeto Corredor Caipira, realizado pelo Nace-Pteca, Esalq/USP e Fealq e patrocinado pela Petrobras, tem como um dos seus objetivos estimular a restauração florestal na sua área de abrangência. A área de abrangência direta do projeto inclui os territórios dos municípios paulistas de Piracicaba, Anhembi, Santa Maria da Serra, São Pedro e Águas de São Pedro. Esses municípios englobam uma área bastante grande e heterogênea sob vários aspectos, incluindo diferenças ambientais, sociais e econômicas.
Uma característica comum a esses municípios é o déficit de florestas nativas e de outras formas de vegetação natural nas suas paisagens e, como consequência, vários desses municípios e outros da região apresentam problemas de escassez de recursos hídricos, inclusive para a finalidade mais básica, que é o abastecimento da população.
Embora a legislação brasileira preveja a existência de áreas dedicadas à conservação ambiental nos imóveis rurais de todo o país, tais como as Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reserva Legal (RL), essas áreas, em sua maioria, não apresentam a vegetação nativa que deveriam conter para realizar os serviços ecossistêmicos a que se destinam. Serviços ecossistêmicos podem ser de provisão (alimentos, água, madeira, plantas medicinais, etc), de regulação (clima, vazão dos rios, controle de desastres naturais, etc.) e culturais (lazer, educação, identidade espiritual, etc.).
A região de abrangência direta do Corredor Caipira está inserida em dois biomas, a Mata Atlântica e o Cerrado e na transição entre eles. Cada um desses biomas tem características peculiares, incluindo a flora e a fauna, mas também as condições ambientais, como os solos que são importantíssimos pelo suporte que fornecem ao desenvolvimento das plantas. Essa variedade de plantas, bichos, solos se traduz em biodiversidade.
Restauração florestal não se resume apenas a plantar árvores
Na região de abrangência do Corredor Caipira a flora apresenta uma grande diversidade de espécies, tanto da Mata Atlântica como do Cerrado mas também com várias formas de vida, incluindo árvores, arbustos, subarbustos, ervas e plantas epífitas, como as bromélias e orquídeas. Dessa forma, é importante salientar que quando se fala em restauração florestal não se está falando apenas de árvores, mas as espécies arbóreas representam apenas uma parcela da biodiversidade da flora regional.
Partindo dessa ideia, de que a vegetação de uma floresta não se restringe apenas às árvores, mas sim a um conjunto maior de formas de vida, o assunto “restauração florestal” começa a ficar mais complexo, pois além de estarmos falando de centenas (ou milhares) de espécies, de biomas diferentes e de exigências ambientais distintas. Dessa forma, a restauração só pode ser alcançada com a efetiva participação da natureza, quer seja através dos animais que realizam a polinização das flores e dispersão das sementes, como do vento que também é essencial para a dispersão de sementes de várias espécies de nossa região, assim como a água e os peixes que também atuam como agentes de dispersão para algumas espécies.
Mas se é tão complexo assim, é possível fazer restauração florestal? Sim, é. Mas é preciso ter um olhar para a paisagem (conjunto de todos os principais usos da terra em uma região) e para os interesses das pessoas e comunidades que estão nessa paisagem. Ela, então, extrapola o “plantio de árvores” para ser uma atividade que visa (re)conectar as pessoas com o meio ambiente e com os seus modos de vida.
Restaurar é envolver pessoas
Para a restauração florestal ocorrer é preciso o envolvimento das pessoas. É insuficiente retirar do sistema produtivo um lote de terra e destiná-lo à restauração, pois é um projeto de longo prazo. Para funcionar e prover serviços ecossistêmicos de maneira consistente para uma região, a restauração da paisagem precisa ser planejada, executada com as melhores técnicas, incluindo as espécies nativas adequadas para a região e para a situação do local onde se pretende realizar a restauração. Além disso, qualquer que seja o menu de técnicas a ser utilizado, é necessário acompanhar o desenvolvimento da vegetação, monitorando e prevendo intervenções de manejo, quando necessárias.
Antes de encerrar esse breve texto é importante destacar um aspecto essencial: Não é desejo do Corredor Caipira e da sociedade em geral, transformar toda a paisagem em áreas para a vegetação natural. As atividades econômicas desenvolvidas nas propriedades rurais têm uma importância econômica e social muito grande. Nosso objetivo é integrar as áreas de conservação e de restauração ao conjunto das demais atividades que são realizadas na propriedade rural para que possam gerar benefícios para o proprietário rural e sociedade, através dos serviços ecossistêmicos e da manutenção da biodiversidade.
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De forma prática, a seguir é apresentado um passo a passo para tomada de decisão de qual tipo de restauração florestal é mais adequado em função das condições locais de onde se quer restaurar. No entanto, é fortemente recomendável que se consulte técnicos especialistas em restauração florestal (engenheiros florestais, biólogos ou agrônomos) para a elaboração do projeto que melhor atende as expectativas e necessidades da pessoa interessada.