O que a restauração das florestas tem a ver com a conservação da água e, consequentemente, da energia elétrica e da comida que chega até a sua mesa? Descubra lendo este texto!
A água é um elemento essencial à existência da vida na Terra, já que todos os organismos vivos dela necessitam para a manutenção de suas funções vitais. Para os humanos a importância deste recurso natural vai além de promover saúde e bem-estar. Passamos a depender da água para uma série de atividades econômicas, sendo esta essencial na produção agrícola, na geração de energia, nos processos industriais e no transporte fluvial.
Cobrindo 2/3 de sua superfície do planeta, muitas pessoas imaginam ser este um recurso natural inesgotável. Falsa sensação! Apesar de abundante, apenas 2,5% da água do planeta é doce. Desta, quase a totalidade se encontra nas geleiras e calotas polares e também nos depósitos subterrâneos profundos, e apenas uma mínima fração, cerca de 0,3%, são águas na forma líquida presente na superfície terrestre. Encontradas nos lagos ou reservatórios artificiais, nos lençóis freáticos ou nos riachos e rios, esta é a água prontamente disponível para utilização humana. Então, para o bom uso deste limitado recurso, é necessário o adequado gerenciamento para assegurar a disponibilidade de água em qualidade e quantidade para atender aos diferentes usos.
Contudo, esta tarefa está cada vez mais complexa, pois a demanda pela água tem crescido progressivamente com o aumento populacional e de suas atividades industriais e agrícolas. Justamente estes mesmos fatores têm sido responsáveis pelos distúrbios ambientais que levam a alteração do ciclo hidrológico e do regime de chuvas.
No Brasil, o desmatamento para a conversação do uso do solo em atividades agrícolas tem sido apontado como principal responsável pela redução na disponibilidade hídrica das diferentes regiões do país. Isto porque as florestas atuam de diferentes modos na conservação dos recursos hídricos. Quer saber como? Confira a seguir 4 de suas inúmeras utilidades:
- As florestas impedem a erosão e assoreamento dos cursos d’água
A vegetação impede que as gotas das chuvas atinjam diretamente o solo e rompam com a sua estrutura, o que facilitaria o carregamento de suas partículas para os cursos d’água, através de processos erosivos, gerando assoreamento.
- Ajuda na infiltração da água no solo, alimentando o lençol freático
As florestas atuam também como esponjas, permitindo que a água infiltre no solo. Parte dela será utilizada pelas plantas, e parte lentamente irá alimentar os lençóis freáticos, que quando vem a superfície, formam as nascentes.
Se estas nascentes estão protegidas por florestas, terão vazão de água maior e por mais tempo. Após brotar à superfície, formarão pequenos cursos d’água, conhecidos como córregos ou riachos, à medida que vão se juntando com outros cursos d’água, passam a ser chamados de ribeirões, até chegarem à condição de rios. Todos estes cursos d’água, devem ter as suas margens protegidas por florestas.
- Protegem as fontes de água em áreas agrícolas e servem como corredores ecológicos para a manutenção da biodiversidade
Chamadas de “Matas Ciliares”, por desempenharem a mesma função dos cílios para os olhos, estas florestas são responsáveis por evitar o carreamento de solo e também dos agrotóxicos das áreas agrícolas para dentro dos cursos d’água, ou desbarrancamentos de suas margens. Desempenham também outras importantes funções ambientais, atuando como corredores ecológicos para a conexão da paisagem e permitindo o fluxo gênico de plantas e animais. Ou seja, são importantes refúgios para a manutenção da biodiversidade.
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Por falar em corredor ecológico, o Corredor Caipira é um projeto tem como objetivo estabelecer, durante 2 anos, 45 hectares de florestas e agroflorestas, formando corredores ecológicos que conectam importantes fragmentos florestais para a conservação da fauna e da flora no território que abrange Piracicaba, São Pedro, Águas de São Pedro, Santa Maria da Serra e Anhembi, no interior de São Paulo. É uma iniciativa realizada pelo Núcleo de Cultura e Extensão em Educação e Conservação Ambiental da ESALQ/USP (NACE-PTECA) e pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (FEALQ), e patrocinada pela Petrobras.
- As plantas da floresta ajudam na evaporação da água e no regime de chuvas
Outro importante processo desempenhado pela floresta no ciclo da água é a evapotranspiração, que é a soma da perda de água da floresta para a atmosfera pela evaporação mais o movimento de água dentro da planta e sua perda pela transpiração através de estruturas presentes nas folhas chamada de estômatos.
Este movimento de água pela evapotranspiração é tão expressivo na região amazônica que os fluxos atmosféricos são reconhecidos como “rios voadores” e interferem diretamente nos regimes das chuvas de todo o continente sul-americano. O deslocamento destas correntes atmosféricas termina com as chuvas que irrigam as plantações do Centro-oeste brasileiro ou abastecem os reservatórios de água para consumo ou geração de energia no Sul e Sudeste.
Por isso, urgentemente devemos parar com os desmatamentos e avançar com as ações de restauração florestal. Neste aspecto, o Programa de Regularização Ambiental, previsto na Lei 12.651/2012, é um instrumento que visa a adequação da paisagem no meio rural e tem dentre suas metas a manutenção ou a recuperação da vegetação nativa de áreas de preservação permanente no entorno das nascentes de água e margens de cursos dos rios. Seu cumprimento deverá ajudar o país a minimizar a emergência hídrica e as mudanças climáticas.
Enfim, ainda há tempo. Então vamos semear esta ideia: plantemos árvores e florestas. E se quiser saber mais sobre o nosso trabalho de Restauração Florestal no interior de São Paulo, acompanhe nossas redes sociais.
Escrito por Eduardo Gusson, Engenheiro Florestal com Doutorado