Os “bastidores” dos Bancos Ativos de Germoplasma: como funciona o processo?

Saiba como os Bancos Ativos de Germoplasma ajudam a salvar espécies vegetais da extinção e conheça o passo-a-passo desse procedimento.

O processo de ocupação das terras no interior paulista iniciado no final do século 18 e que perdura até hoje, teve um efeito devastador sobre a Mata Atlântica. Nos cinco municípios da região de abrangência direta do projeto Corredor Caipira, um território com quase 3 mil km², restam apenas 13% de matas nativas, dispersas em uma multidão de fragmentos florestais. Essa situação é preocupante para a conservação biológica e para o desenvolvimento sustentável da região, pelos serviços ambientais prestados pelos ecossistemas naturais. Esses fragmentos de floresta que resistem na paisagem abrigam boa parte da diversidade biológica existente na região.

As espécies vegetais nativas se reproduzem principalmente através do cruzamento entre indivíduos mediado pela polinização realizada por abelhas, vespas, borboletas, mariposas, beija-flores e morcegos. O cruzamento reprodutivo possibilita que os descendentes sejam diferentes dos pais, com um perfil genético único e que representa uma determinada população. Para a conservação biológica, é importante que as populações contenham alta diversidade genética, com cruzamentos entre plantas que não possuam graus de parentesco muito próximos, pois do contrário aumentam as chances de genes recessivos se expressarem, podendo provocar menor resistência à doenças, crescimento mais lento ou maior suscetibilidade à estresses ambientais.

Uma das alternativas para diminuir a perda de biodiversidade é a criação de Bancos Ativos de Germoplasma (BAG) especialmente para as espécies que sofrem maior nível de ameaça e que tiveram suas populações muito reduzidas. Bancos de Germoplasma são unidades conservadoras de material genético de uso imediato ou para uso futuro.

Conheça através deste texto como funciona o BAG e a sua importância para a conservação das espécies da flora nativa. 

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Como são os processos dos Bancos Ativos de Germoplasma? 

  1. Seleção de espécies para  a formação do BAG 

Diversos fatores são responsáveis pela distribuição da variação genética entre e dentro de populações de plantas, como o tamanho da população, a distribuição geográfica, o modo de reprodução e cruzamento, a forma de dispersão das sementes e o tipo de comunidade onde a espécie é frequente.

Para formação do BAG do projeto Corredor Caipira, por exemplo, foram selecionadas vinte espécies a partir de critérios técnicos tais como:

  1. Risco de extinção local;
  2. Raridade; 
  3. Reconhecido uso tradicional e/ou valor econômico.

A partir de uma lista com quase 100 espécies foram selecionadas vinte delas para o BAG. Para a instalação do BAG é necessário que a área selecionada seja protegida para assegurar a sua perenidade em longo prazo. O local escolhido foi a Estação Experimental do Departamento de Genética – ESALQ, no distrito de Anhumas, Piracicaba-SP.

2. Coleta de sementes e identificação correta

Para a coleta das sementes das espécies arbóreas selecionadas para o BAG, busca-se localizar populações naturais das espécies de interesse na região do projeto. As árvores com sementes coletadas têm sua localização geográfica registrada assim como as principais características da planta. A meta do Corredor Caipira é a obtenção de sementes de vinte espécies; cada qual representada por 30 árvores matriz, das quais são coletadas sementes para produzir mudas no viveiro.

Desde a fase de coleta os frutos e sementes são devidamente identificados com relação à árvore matriz que deu origem ao material. Esse controle de identificação da mãe, é essencial em todo o processo de formação do BAG. 

3. Preparo das sementes e mudas 

Após a coleta, as sementes são enviadas para o viveiro para o devido beneficiamento, que inclui limpeza de impurezas e extração das sementes dos frutos e secagem. No viveiro do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais – IPEF – em Piracicaba,  as mudas são formadas conforme os procedimentos padrão de produção, devendo os recipientes das mudas conter a identificação de origem das matrizes.

  1. Plantio definitivo

Após as mudas atingirem desenvolvimento que as habilite para o plantio no lugar definitivo, são encaminhadas para o campo, onde serão plantadas. No campo, a instalação do BAG, propriamente dito, segue uma série de procedimentos que visam manter o controle permanente sobre a origem de cada uma das plantas que compõem o BAG.

Os processos de construção dos Bancos Ativos de Germoplasma são bem minuciosos, não é mesmo? Agora que você já sabe como funcionam, que tal saber mais sobre o projeto Corredor Caipira? 

O Corredor Caipira é um projeto realizado pelo Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental (Nace-Pteca) da Esalq/USP e pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Leia mais sobre nossos objetivos e artigos sobre Bancos Ativos de Germoplasma, restauração florestal, agroecologia e outros assuntos relacionados no nosso site e também confira as novidades nas redes sociais do projeto. 

Foto: Jessica Lane

Escrito por Girlei Costa da Cunha, Engenheiro Florestal com mestrado