Equipe do projeto “Corredor Caipira” percorreu pontos importantes da trajetória negra em sua cidade-sede; conhecer as histórias é fundamental para compreender o ambiente
No dia 5 de novembro de 2021, a equipe do projeto “Corredor Caipira – Conectando Paisagens e Pessoas” realizou a Rota Afro pelas ruas da região central de Piracicaba, cidade-sede da iniciativa.
Sob orientação da guia de afro-turismo Julia Madeira, o roteiro passou por pontos fundamentais no município quanto às tradições negras, embora, ao longo da história, a presença e a importância de homens e mulheres negros tenha sido minimizada e até mesmo apagada, sem registros contundentes.
O projeto Corredor Caipira, realizado pelo Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental (Nace-Pteca) da Esalq/USP e pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
O ponto de partida da rota foi o Largo da Santa Cruz, que no passado serviu como local de festividades de pessoas afrodescendentes. Tradicionalmente um espaço de resistência, o Clube 13 de Maio foi visitado pelo grupo, assim como a Igreja São Benedito, que leva o nome de um santo negro.
A Praça José Bonifácio chegou a abrigar um pelourinho, onde homens e mulheres escravizados eram açoitados. A Praça Tibiriçá, localizada atrás da Escola Estadual Moraes Barros, foi construída em cima de um importante cemitério onde negros foram enterrados.
Destruição de parte do acervo e “Dr. Preto”
No Engenho Central, às margens do Rio Piracicaba, local de fundamental importância para a cultura local, o grupo foi informado pela guia que o acervo do Centro de Documentação, Cultura e Política Negra, antes devidamente armazenado em um imóvel nas proximidades, hoje está restrito a algumas poucas caixas. E que uma considerável parte do material foi destruída por um incêndio ocorrido em 2020.
Ainda no Engenho Central, a equipe conheceu a história do “Dr. Preto”, médico conhecido por resolver problemas graves de saúde. Consideradas mágicas, suas mãos são destacadas no busto que homenageia o profissional que, embora gozasse de prestígio, teria sido expulso do município por discordância política com a burguesia do período.
Referências na construção e valorização do ambiente
O roteiro terminou na região do Parque do Mirante, nas proximidades da ponte construída pelos irmãos Rebouças, homens negros que foram referências da construção e da engenharia local.
Histórias que, apesar da pouca existência de registros oficiais, são fundamentais para a compreensão de um município e de uma região conhecidos como um celeiro artístico e cuja diversidade deve ser sempre ressaltada.
Conhecer o ambiente onde se está inserido e a história desse local é valorizar a memória dos povos que o construíram e, a partir dos aprendizados – muitos deles disseminados por meio da oralidade – construir uma sociedade mais equânime e um meio ambiente que contemple a todos.
Rota Afro: relações entre cultura afrocaipira e ambiente
O projeto “Corredor Caipira – Conectando Paisagens e Pessoas” tem como objetivo implantar 45 hectares de florestas e agroflorestas e formar corredores agroecológicos que conectam importantes fragmentos florestais no estado de São Paulo. A iniciativa reúne atividades focadas na conservação da fauna e da flora.
Falar em caipira é abordar um povo que, em sua essência, tem realmente uma relação muito forte com a terra. E, mais do que isso, se sente pertencente à terra em que vive. O que é fundamental, já que, para preservar a natureza e valorizar o ambiente, é preciso ter esse senso de pertencimento.
Uma relação em que a cultura e a natureza caminham completamente juntos. Valorizar a cultura e principalmente a cultura afrocaipira é valorizar os saberes ancestrais, os modos de produção artesanais e as formas solidárias de economia. É valorizar o ambiente. Esses são alguns dos princípios do Corredor Caipira!
SERVIÇO
Quem quiser saber mais sobre a Rota Afro e agendar sua participação, pode entrar em contato com a Julia Madeira pelo e-mail juliamadeirag@gmail.com ou pelo Instagram: @juliamadeiraafro
Mais informações sobre o “Corredor Caipira” podem ser conferidas no site oficial do projeto (www.corredorcaipira.com.br) ou nas redes sociais: @corredorcaipira no Facebook e no Instagram
Escrito por Rafael Bitencourt, jornalista e coordenador de comunicação do Corredor Caipira