Sabe-se que a agricultura familiar exerce um importante papel como principal fonte de abastecimento de alimentos no Brasil. Entretanto, agricultores familiares, com suas tradições e sistemas antigos de produção, ainda carecem de um método produtivo apropriado à sua capacidade reduzida de investimento, inclusive, ao tamanho de suas propriedades rurais.
Nestes casos, é nítido que muitas técnicas de produção atuais e com bons resultados aplicados não são disseminadas entre os produtores da agricultura familiar. Um exemplo disso é a técnica de bombeamento de água por “golpe de aríete”, ou comumente conhecido como carneiro hidráulico, um sistema de bombeamento de baixo custo operacional e altamente sustentável (não usa energia elétrica ou motores a combustão), porém pouco conhecido pelos agricultores.
Podemos citar também como pouco conhecidos os Sistemas Agroflorestais (SAFs), que são uma forma de uso e ocupação do solo em que árvores são plantadas ou manejadas em associação com culturas agrícolas ou forrageiras. Por reunir inúmeras vantagens e diversidade para o agricultor e agricultora, os SAFs podem viabilizar a produção numa propriedade rural, além de trazer benefícios ambientais diversos, como a reciclagem de materiais orgânicos ou biomassa, fundamental para o enriquecimento do solo.
Os SAFs podem contribuir para que o produtor ou a produtora rural consiga inúmeras formas de colheita, sendo estas de curto, médio e longo prazo, com utilização de técnicas sustentáveis com menor dependência de insumos externos, com a possibilidade de tornar sua propriedade rural autossuficiente. Cada cultura é projetada e plantada em áreas e prazos específicos, para que a colheita seja perene e constante, deixando de lado a monocultura e a produção de alimentos de forma isolada.
Nestes sistemas, a diversidade de plantas transforma-se em coexistência, fortalecendo todo o modelo, que produz luz, matéria orgânica, umidade, produção de água (devido à arborização duradoura que se cria) garantindo a quem possui a terra possíveis vantagens econômicas. Outro ponto interessante é que com os SAFs é possível aumentar a segurança e a qualidade alimentar, tanto para quem produz como para quem consome, uma vez que eles produzem alimentos saudáveis e com diversidade.
Para a implantação de um Sistema Agroflorestal, é importante seguir alguns passos para a sua elaboração. Segundo boletim técnico da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), estes passos são:
- Identificar e implantar as espécies florestais;
- Identificar e implantar espécies pesticidas;
- Identificar e implantar as frutíferas de ciclo médio;
- Identificar e implantar as frutíferas de ciclo curto, ornamentais e café;
- Identificar e implantar anuais, forrageiras, hortaliças e plantas de cobertura;
É importante ressaltar que a quantidade e a diversidade destes passos é fundamental para a qualidade e a perenidade deste sistema de produção.
O destaque aos SAFs no nosso curso
O planejamento e a execução de Sistemas Agroflorestais bem sucedidos foram apresentados durante o curso do Corredor Caipira, projeto realizado pelo Nace-Pteca, Esalq/USP e Fealq e patrocinado pela Petrobras.
De todo o material disponibilizado pelo curso, na abordagem dos SAFs, algo que foi bastante destacado é a possibilidade de usar estes sistemas em áreas de recuperação ambiental. Geralmente, as áreas de recuperação são estabelecidas como obrigatórias, devido a compensação ambiental, e, muitas vezes, não recebem a devida atenção e ficam abandonadas.
Uma abordagem em que é possível usar e disponibilizar esta área para produção alimentar e, em contrapartida, fornecer matéria orgânica para sucessão florestal, pode ser um grande passo para fortalecer o uso de Sistemas Agroflorestais no âmbito da regularização legal da propriedade.
Por fim, um ponto a ser considerado na implantação de SAFs em áreas de recuperação ambiental é a possibilidade de consorciar grupos da agricultura familiar para, além de cuidar de todo o processo, produzir e colher alimentos destas áreas, contemplando assim o entendimento que os agricultores e agricultoras querem trabalhar, produzir e se sustentar da própria terra.
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Foto: Jessica Lane
Escrito por Antônio Marcos Zenaro, estudante do curso “Conectando Paisagens e Pessoas”