A sustentabilidade nos sistemas de produção agropecuária só é alcançada quando os nutrientes circulam em um sistema bem adaptado prevenindo perdas. O primeiro passo para garantir tal sucesso é restabelecer o processo de ciclagem de nutrientes.
Nas florestas tropicais, com elevada biodiversidade, a ciclagem de nutrientes é eficiente e equilibrada. Isso acontece, pois as diversas espécies florestais possuem características distintas e, por sua vez, aproveitam os nutrientes extraídos de diferentes profundidades e em diferentes quantidades de cada elemento químico (N, P, K, Ca etc). Esses nutrientes são absorvidos pelas plantas e devolvidos ao solo, via serapilheira (camada de folhas, galhos, flores e frutos que caem das árvores e se depositam no solo) , e posteriormente podem ser reabsorvidos por outras plantas que não teriam a capacidade de retirá-los das camadas mais profundas.
A serapilheira é particularmente importante por atuar na superfície do solo recebendo entradas via vegetação e, por sua vez, decompondo-se e suprindo o solo com nutrientes e matéria orgânica, sendo essencial na restauração da fertilidade do solo Diante disso, é importante também ressaltar que uma maior diversidade de espécies vegetais proporciona um fluxo contínuo de deposição de matéria orgânica no solo e uma composição diversificada de nutrientes tanto para outras espécies vegetais, quanto animais e microrganismos. O que mostra a importância da serapilheira não só no sentido quantitativo, mas também no sentido qualitativo que é garantido, sobretudo pela diversidade de espécies arbóreas.
Outro fator que influencia na dinâmica de ciclagem de nutrientes é o estágio sucessional das espécies. Na sucessão ecológica as espécies pioneiras (aquelas de rápido crescimento e ciclo de vida mais curto) tendem a restaurar a fonte de nutrientes no sistema. Isso significa que essas espécies possuem um sistema radicular muito eficiente para absorção dos nutrientes que se encontram em pequena quantidade no solo. Assim, essas espécies pioneiras melhoram as condições de fertilidade do solo, através da elevada produção de matéria orgânica, o que facilita o estabelecimento das espécies dos próximos estágios sucessionais que são mais exigentes em fertilidade.
Assim, é possível afirmar que a diversidade de espécies arbóreas rege mecanismos fundamentais para a manutenção das florestas tropicais, contribuindo com a sustentabilidade desses ecossistemas naturais e com a abundância na produção e acúmulo de biomassa.
A ciclagem de nutrientes em Sistemas Agroflorestais (SAFs)
Essa importante característica encontrada nas florestas pode ser utilizada em sistemas produtivos através dos Sistemas Agroflorestais (SAFs). OS SAFs possuem árvores que devem ser planejadas e distribuídas na área e plantio para realizar a ciclagem de nutrientes de maneira eficiente, dentre tantas outras funções e benefícios que elas exercem.
Os Sistemas Agroflorestais são caracterizados pela tendência a imitar a dinâmica da sucessão ecológica de uma floresta nativa, e ainda possuem composição e manejo apropriados para atender objetivos de segurança alimentar e aumento da renda para agricultores. Os SAFs maximizam o uso da energia solar, otimizam a eficiência do uso da água, minimizam a perda de solo por erosão e as perdas de nutrientes pelo sistema.
Com tantos benefícios, o Corredor Caipira apoia, fortalece, implanta e incentiva o uso de Sistemas Agroflorestais no interior de São Paulo. O Corredor Caipira é um projeto realizado pelo Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental da ESALQ/USP e pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz, com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Conheça mais sobre esse projeto aqui em nosso site e redes sociais.
Foto: Jessica Lane
Escrito por Henrique Ferraz de Campos, engenheiro agrônomo com mestrado e coordenador técnico do projeto Corredor Caipira